terça-feira, 15 de janeiro de 2013


POVO TAMBÉM É  FLORES


- Engraçado não  ter plantas, flores, por cima do caramanchão ...
- No passado, isso aqui era assim (faz o gesto da mão cheia,
com dedos piscando), tapado de rosas...
- E o que houve então ?!
- Os casais começaram a fazer... (faz gesto obsceno com as mãos )...
-Pobres plantas!
 

 

PS Fui secretamente fazendo a tecitura dos cachos das trepadeiras que jaziam inertes, quase sepultas, em jarros de cimento vizinhos às colunas nuas do caramanchão  sem flores do Garanhuns.  Para que eles de cachos se fizessem  tranças e,  fortes, pudessem se agarrar com os outros cachos virados tranças, dando voltas em torno das colunas nuas do caramanchão  sem flores do Garanhuns. No início, pensei eu estar plantando o caos, induzindo os fios ao canibalismo e à  morte, mas logo nas primeiras semanas, eu... EU, esse jardineiro sem nenhum estudo ou experiência, fruto do acaso, da necessidade e do acidental, pude ver que  pequenas florações  de rosas botavam à  frente, um verde novo e fresco anunciava alguns centímetros de crescimento nos ramos novos, e o vento, nem ninguém,   desfizera as minhas incertas amarrações  de fios pelas colunas nuas do caramanchão sem flores do Garanhuns. Visitando o local do crime posso dizer que minhas meninas estão cada vez mais robustas (até a mais acanhada das criaturas, talvez a que mais tenha sofrido com o descaso público, e a concorrência de plantas hospedeiras, parece querer dizer "sim" à  vida), já bem mais adiantadas vão do que  quando eu tirei essas fotos. Fiz as fotos porque pra mim era como se as minhas meninas tivessem saído da UTI, uma delas forte e revigorada dando um aperto fraternal numa das colunas seminuas do caramanchão (quase) sem flores do Garanhuns.

terça-feira, 8 de janeiro de 2013

Seu Eli, dono de um saber, senhor de uma arte 
 
O (TALVEZ) ÚNICO,
O (TALVEZ) ÚLTIMO
ALFAIATE DO GARANHUNS
 
 
- Faz tempo que o senhor trabalha aqui?
- Nesse ponto, 23 anos...
- Vai parar quando?
- Só  largo isso aqui quando eu morrer!
- Por quê ?
- Porque alfaiate novo não  tem mais não!
 
 
 

PS Gosto dos domingos. Domingos são dias tampões. Eles separam um sábado sujo de uma segunda-feira mais suja ainda. Garanhuns é assim, a semana toda a cidade vive entullhada de lixo, carros estacionados sobre as calçadas, trânsito mortal de motos, camêlos vendendo de um-tudo em todos os lugares - verdadeira sucursal do inferno. A coisa piora quando se toca para a parte mais antiga do centro. Aparenta ser 'mais antiga' ainda que se adivinhe sucessivas descaracterizações, e também o gigantismo e o desordenamento das placas comerciais não deixem nada se desnudar nas fachadas dos prédios para se fazer o tira-teima sobre a velhice do lugar; mas o fato de não haver sofrido do rompante Haussmaniano da alargada Avenida Santo Antonio confere àquelas ruazinhas apertadas e meio indecisas próximas ao mercado o status de velharia pública. Mas só aos domingos elas são agradaveis de andar, quando todo o povo decidiu por bem ficar em casa, e só alguns sobreviventes bêbados, "sobreviventes" moradores e mais os sentinelas de sempre - cachorros vivendo em estado de total abandono, matilhas inteiras - dão o ar da graca, a meu ver, por inteiro. Durante a semana eles provavelmente fiquem num estado de interrupcão, de sono, de descuido de si... Foi um domingo que me trouxe a visão da plaquinha do seu Eli, anunciando seu trabalho, e a curiosidade me abateu por 24 horas, já que a portinha singela debaixo da plaqueta estava fechada e eu fiquei acanhado de me anunciar para ninguém. O resto da estória você pôde ter intuído daqui...

 

sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

IMPRENSA MARROM: RAPAZ SALVA CACTO DA  MORTE!


MANDACARU QUANDO
FULORA NA SECA


- Há muito tempo você mora aqui?
- Uns 36 anos, quer dizer, vai fazer 37.
- E a estória  dela (da cactácia)?
- Passei de moto e a vi jogada num entulho,
a uns 2, 3 quarteirões  do trabalho.
-E?
-Decidi cuidar dela...

 




PS É impressionante o número de pessoas que se voluntaria para cuidar de animais no Brasil e mundo afora. Elas os retiram das ruas, os alimentam, providenciam cuidados veterinários e organizam feiras de adoção para que novas pessoas se reafeiçoem ao cão ou gato que foi abandonado. Parece que temos muito pouco disso em Garanhuns, ainda que eu saiba de almas que alimentem cães abandonados em nossas ruas. Eles, os cães abandonados, são muitos. Sabia também  da existência de guardiões de plantas, e de pessoas que se voluntariavam para cuidar de pequenos jardins em praças, mas eu não me dava conta da importância de divulgar esses pequenos atos de civilidade e respeito antes que eu próprio começasse a (tentar) praticá-los, numa situação um tanto quanto diversa da apresentada. E parece que quando a gente se abre pra uma coisa toda uma nova dimensão se abre junto e aos poucos você vai travando contato com esses heróis anônimos que nem salvam o mundo nem o dia, mas não deixam de, em doses homeopáticas, fazer e espalhar o bem. O bem é contagioso?




 

quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

EM DETALHE: LUMINÁRIA  NA SACADA DO PALÁCIO CELSO GALVÃO


E VEJO FLORES EM ...


 

 Quem passava pela manhã ainda podia ver as flores meio ressaquiadas no palanque que continuava armado ao dia dos primeiros trabalhos do prefeito eleito. Embalado pelo dizer de um ditado chinês, ' fica sempre um pouco de perfume nas mãos que oferecem rosas', espera o povo que as mãos da véspera, aquelas que  receberam a todos com flores, continuem exalando o perfume de rosas quando suores, tentações
e calafrios acometerem, nos 4 anos que se seguem, uma única dessas mãos, a mão que segura a caneta...